A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial nesta quinta-feira no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O pedido foi feito em caráter de urgência.
A empresa informou que o valor total de sua dívida é de cerca de R$ 43 bilhões e conta com 16.300 credores. A lista desses credores será apresentada em 48 horas.
A empresa afirmou que pretende apresentar o plano de recuperação em 60 dias, que é o prazo previsto em lei.
A Americanas pediu ainda à Justiça autorização para capitalizar a AME, um dos maiores vetores de renda da varejista, especialmente por se tratar de uma instituição financeira.
Os acionistas de referência da Americanas — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, do 3G Capital — pretendem manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação de todas as lojas, do seu canal digital, da americanas.com , da Ame e suas demais coligadas, informou a Americanas em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Movimento anunciado
No início da manhã, a empresa já havia alertado que, devido ao tombo no caixa, reduzido a R$ 800 milhões, poderia pedir recuperação judicial dentro dias ou mesmo horas.
Mergulhada em uma crise iniciada há uma semana, desde a divulgação de inconsistências contábeis no valor de R$ 20 bilhões no balanço de 2022 e anos anteriores, o que levou o endividamento da empresa a superar R$ 40 bilhões, a Americanas vinha tentando negociar um acordo com os credores que pudesse evitar o pedido de proteção à Justiça.
No último dia 13, a companhia obteve na Justiça uma medida cautelar protegendo a varejista contra a cobrança de dívidas antecipadas por seus credores por um período de 30 dias.
A medida, contudo, retroagiu ao dia 11, quando o problema financeiro foi anunciado. E isso disparou uma grande disputa entre a Americanas e seus credores financeiros pelo caixa da empresa. BTG Pactual, Banco Votorantim, Bank of America, Goldman Sachs entraram na Justiça contra a decisão, seguidos de Bradesco e Itaú nesta quinta-feira.
Justificativas
Na petição, a Americanas diz que a queda no valor das ações, em quase 80% em menos de uma semana desde a divulgação dos R$ 20 bilhões em inconsistências contábeis, e o rebaixamento de seus ratings pelas agências de classificação de risco deixaram os credores financeiros “em polvorosa”.
Isso foi determinante para que os bancos se recusassem a celebrar operações de adiantamento de recebíveis de cartões de crédito, que são operações usadas para antecipar pagamentos, o que poderia gerar um caixa adicional superior a R$ 3 bilhões, montante necessário para manter a sua operação de curto prazo.
Ao citar o BTG Pactual, que obteve vitória na Justiça derrubando a exigência de devolver valores de dívidas liquidadas antecipadamente a Americanas, a empresa disse que “a situação de caixa da companhia, que já era sensível, foi drasticamente afetada”.
A varejista lembra que “o bloqueio indevido de quase R$ 1,5 bilhão em uma situação periclitante como a atual faz com que a manutenção dos negócios do Grupo Americanas seja impossível sem a proteção da recuperação judicial”. Deste total, R$ 1,2 bilhão estão com o BTG.
A Americanas frisa que “caso não seja deferido” o pedido haverá um “absoluto aniquilamento do fluxo de caixa”, o que impedirá o cumprimento de obrigações diárias indispensáveis como o pagamento de fornecedores e funcionários.
Efeito ovo de Páscoa
Ao explicar o impacto da Americanas no varejo, a empresa cita que a crise do grupo “pode afetar até mesmo o preço do ovo de Páscoa, pois se trata da maior varejista de ovos de Páscoa do mundo!”
Tombo no caixa
Quanto pediu a cautelar à Justiça no dia 13, a empresa afirmou contar com R$ 8 bilhões em caixa, frisando que se os credores pudessem executar dívidas antecipadamente, isso inviabilizaria a continuidade das operações, empurrando a companhia para um pedido de recuperação judicial.
O que seu viu, na sequência, foi uma queda de braço entre a companhia e os bancos credores. Com pressões vindas das duas partes. Decisão em favor do BTG Pactual, derrubou a exigência de que dívidas liquidadas entre os dias 11 e 13 tivessem de ser devolvidas a Americanas.
Com isso, somente em valores referentes a cobrança feita pelo BTG, R$ 1,2 bilhão deixaram de ser restituídos ao caixa da Americanas.
Os bancos seguiram pressionando por um aporte feito pelo trio de acionistas de referência da companhia – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, do 3G Capital. O valor desse aporte variava entre R$ 6 bilhões e R$ 21 bilhões, segundo fontes de mercado.
Impacto na operação
Já havia efeito também na operação da empresa. Parte dos fornecedores da empresa decidiu suspender a entrega de mercadorias a Americanas ou apenas fazer remessas de produtos diante de pagamento à vista.
Esta semana, fornecedores relatam que pagamentos foram suspensos ou estão em atraso.
A Americanas tem uma rede com 3.600 lojas no país, contando ainda com um marketplace com perto de 150 mil vendedores cadastrados. Ao todo, mantém mais de cem mil empregos entre diretos e indiretos.
Fonte: O Globo